Банкир-анархист и другие рассказы
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«Um reg'imen revolucion'ario, enquanto existe, e seja qual for o fim a que visa ou a ideia que o conduz, 'e materialmente s'o uma coisa — um regime revolucion'ario. Ora um reg'imen revolucion'ario quer dizer uma ditadura de guerra, ou, nas verdadeiras palavras, um reg'imen militar desp'otico, porque o estado de guerra 'e imposto `a sociedade por uma parte d'ela — aquela parte que assumiu revolucionariamente o poder. O que 'e que resulta? Resulta que quem se adaptar a esse reg'imen, como a 'unica coisa que ele 'e materialmente, mediatamente, 'e um reg'imen militar desp'otico, adaptase a um reg'imen militar desp'otico. A ideia, que conduziu os revolucion'arios, o fim, a que visaram, desapareceu por completo da realidade social, que 'e ocupada exclusivamente pelo fen'omeno guerreiro. De modo que o que sai de uma ditadura revolucion'aria — e tanto mais completamente sair'a, quanto mais tempo essa ditadura durar — 'e uma sociedade guerreira de tipo ditatorial, isto 'e, um despotismo militar. Nem mesmo podia ser outra coisa. E foi sempre assim. Eu n~ao sei muita hist'oria, mas o que sei acerta com isto; nem podia deixar de acertar. O que saiu das agitac~oes pol'iticas de Roma? O imp'erio romano e o seu despotismo militar. O que saiu da Revoluc~ao Francesa? Napole~ao e o seu despotismo militar. E voc^e ver'a o que sai da Revoluc~ao Russa… Qualquer coisa que vai atrasar dezenas de anos a realizac~ao da sociedade livre… Tamb'em, o que era de esperar de um povo de analfabetos e de m'isticos?…
Enf'im, isto j'a est'a fora da conversa… Voc^e percebeu o meu argumento?
— Percebi perfeitamente.
— Voc^e compreende portanto que eu cheguei a esta conclus~ao: Fim: a sociedade anarquista, a sociedade livre; meio: a passagem, sem transic~ao, da sociedade burguesa para a sociedade livre. Esta passagem seria preparada e tornada poss'ivel por uma propaganda intensa, completa, absorvente, de modo a predispor todos os esp'iritos e enfraquecer todas as resist^encias. 'E claro que por
«Ora a'i tem voc^e por que e como eu me tornei anarquista, e por que e como rejeitei, como falsas e antinaturais, as outras doutrinas sociais de menor ousadia.
«E pronto… Vamos l'a a continuar a minha hist'oria.
Fez explodir um f'osforo, e acendeu lentamente o charuto. Concentrou-se, e da'i a pouco prosseguiu.
* * *
— Havia v'arios outros rapazes com as mesmas opini~oes que eu. A maioria era de oper'arios, mas havia um ou outro que o n~ao era; o que todos 'eramos era pobres, e, que me lembre, n~ao 'eramos muito est'upidos. A gente tinha uma certa vontade de se instruir, de saber coisas, e ao mesmo tempo uma vontade de propaganda, de espalhar as nossas ideias. Quer'iamos para n'os e para os outros — para a humanidade inteira — uma sociedade nova, livre destes preconceitos todos, que fazem os homens desiguais artificialmente e Ihes imp~oem inferioridades, sofri-mentos, estreitezas, que a Natureza lhes n~ao tinha imposto! Por mim, o que eu lia confirmava-me nestas opini~oes. Em livros libert'arios baratos — os que havia ao tempo, e eram j'a bastantes — li quase tudo. Fui a confer^encias e comicios dos propagandistas do tempo. Cada livro e cada discurso me convenc'ia mais da certeza e da justica das minhas ideias. O que eu pensava ent~ao — repito-lhe, meu amigo — 'e o que pens'o hoje; a 'unica diferenca 'e que ent~ao pensava-o s'o, e hoje penso-o e pratico-o.
— Pois sim; isso, at'e onde vai, est'a muito bem. Est'a muito certo que voc^e se tornasse anarquista assim, e vejo perfeitamente que voc^e era anarquista. N~ao preciso mais provas disso. O que eu quero saber 'e como 'e que da'i saiu o banqueiro…, como 'e que saiu da'i sem contradigo… Isto 'e, mais ou menos j'a calculo…
— N~ao, n~ao calcula nada… Eu sei o que voc^e quer dizer… Voc^e baseia-se nos argumentos que me acaba de ouvir, e julga que eu achei o anarquismo irrealiz'avel e por isso, como lhe disse, s'o defens'avel e justa a sociedade burguesa — n~ao 'e?
— Sim, calculei que fosse mais ou menos isso…
— Mas como o podia ser, se desde o princ'ipio da conversa lhe tenho dito e repetido que sou anarquista, que n~ao s'o o fui mas o continuo sendo? Se eu me tivesse tornado banqueiro e comerciante pela raz~ao que voc^e julga, eu n~ao era anarquista, era burgu^es.
— Sim, voc^e tem raz~ao… Mas ent~ao com os diabos…? V'a l'a, v'a dizendo…
— Como lhe disse, eu era (fui sempre) mais ou menos l'ucido, e tamb'em um homem de acc~ao. Essas s~ao qualidades naturais; n~ao mas puseram no berco (se 'e que eu tive berco), eu 'e que as levei para l'a. Pois bem. Sendo anarquista, eu achava insuport'avel ser anarquista s'o passivamente, s'o para ir ouvir discursos e falar nisso com os amigos. N~ao: era preciso fazer qualquer coisa! Era preciso trabalhar e lutar pela causa dos oprimidos e das v'itimas das convenc~oes sociais! Decidi meter ombros a isso, conforme pudesse. Pus-me a pensar como 'e que eu poderia ser 'util `a causa libert'aria. Pus-me a tracar o meu plano e acc~ao.
«O que quer o anarquista? A liberdade — a liberdade para si e para os outros, para a humanidade inteira. Quer estar livre da influ^encia ou da press'ao das ficc~oes sociais; quer ser livre tal qual nasceu e apareceu no mundo, que 'e como em justica deve ser; e quer essa liberdade para si e para todos os mais. Nem todos podem ser iguais perante a Natureza: uns nascem altos, outros baixos; uns fortes, outros fracos; uns mais inteligentes, outros menos… Mas todos podem ser iguais da'i em diante; s'o as ficc~oes sociais o evitam. Essas ficc~oes sociais 'e que era preciso destruir.
«Era preciso destru'i-las… Mas n~ao me escapou uma coisa, era preciso destru'i-las mas em proveito da liberdade, e tendo sempre em vista a criac~ao da sociedade livre. Porque isso de destruir as ficc~oes sociais tanto pode ser para criar liberdade, ou preparar o caminho da liberdade, como para estabelecer outras ficc~oes sociais diferentes, igualmente m'as porque igualmente f'icc~oes. Aqui 'e que era preciso cuidado. Era preciso acertar com um processo de acc~ao, qualquer que fosse a sua viol^encia ou a sua n~ao-viol^encia (porque contra as injusticas sociais tudo era leg'itimo), pelo qual se contribu'isse para destruir as f'icc~oes sociais sem, ao mesmo tempo, estorvar a criac~ao da liberdade futura; criando j'a mesmo, caso fosse poss'ivel, alguma coisa da liberdade futura.
«'E claro que esta liberdade, que deve haver cuidado em n~ao estorvar, 'e a liberdade futura e, no presente, a liberdade dos oprimidos pelas ficc~oes sociais. Claro est'a que n~ao temos que olhar a n~ao estorvar a
— Est'a clar'issimo. Continu'e…
— Para quem quer o anarquista a liberdade? Para a humanidade inteira. Qual 'e a maneira de conseguir a liberdade para a humanidade inteira? Destruir por completo todas as ficc~oes sociais. Como se poderiam destruir por completo todas as ficc~oes sociais? J'a lhe antecipei a explicac~ao, quando, por causa da sua pergunta, discuti os outros sistemas avancados e lhe expliquei como e porque era anarquista… Voc^e lembra-se da minha conclus~ao?…
— Lembro…
— …Uma revoluc~ao social s'ubita, brusca, esmagadora, fazendo a sociedade passar, de um salto, do reg'imen burgu^es para a sociedade livre. Esta revoluc~ao social preparada por um trabalho intenso e continuo, de acc~ao directa e indirecta, tendente a dispor todos os esp'iritos para a vinda da sociedade livre, e a enfraquecer at'e ao estado comatoso todas as resist'encias da burguesia. Escuso de lhe repetir as raz~oes que levam inevitavelmente a esta conclus~ao, adentro do anarquismo; j'a lhas expus e voc^e j'a as percebeu.