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Банкир-анархист и другие рассказы
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Ent~ao o Saraiva, 'alacre, deu um pulo para o meio da sala, e bracos abertos, gritante e alegre, bradou para as senhoras todas: Eh, putedo!

E depois, voltando-se a rir para os apresentantes l'ividos, inclinou a cabeca e levou `a eterna p'alpebra direita o eterno indicador direito, «Voc^es esqueceram-se que eu sou o Saraiva»…

Moralidade:

N~ao ser Saraiva.

Na d'uvida ser Saraiva, porque aqui o Saraiva foi o parvo e os outros 'e que ficaram atrapalhados.

Quando uma nac~ao er'e firmemente em si mesma, humilha os outros ainda quando se engana e 'e rid'icula. Coisa por cousa, mais vale ser Saraiva. Porque 'e preciso n~ao esquecer o resultado pr'atico de tudo isto. As raparigas ficaram insultadas, os rapazes ficaram envergonhados: quem ficou vencedor foi o Saraiva.

Eu, o doutor

Entrei uma tarde numa camisaria de onde gastava, com o fim imaginado de comprar uma gravata. O caixeiro que estava livre de fregu^es, e que h'a muito me conhecia, cumprimentou-me alegremente:

«Boa tarde, senhor doutor».

«N~ao sou doutor», disse-lhe, e era a verdade. «Porque 'e que me julga doutor?»

«Ah, eu realmente julgava…», respondeu ele limpidamente.

Pedi gravatas, escolhi a que preferi, paguei. Nesta altura, o outro caixeiro, que tamb'em de h'a muito me conhecia, veio para ao p'e do colega.

«Boa tarde», disse eu para ambos.

Os dois caixeiros inclinaram-se am'aveis e sincr'onicos, e, como um s'o, disseram:

«Boa tarde, senhor doutor, e muito obrigado».

Moralidade:

Quando a opini~ao nos faz doutores, doutores temos que ser. Na vida social, somos o que os outros nos julgam, e n~ao o que at'e fingidamente somos. A nossa personalidade social, para todos, ou hist'orica, para os c'elebres, 'e uma ideia de n'os que nada tem de n'os. O estadista que saiba saber isto tem a chave do dominio do mundo. Pode, 'e claro, faltar-lhe a porta; isso, por'em, 'e j'a destino.

31/1/1932

O burro e as duas margens

'E costume contar-se `as criancas, quando comecam a estar em idade de comecar a ser est'upidas, uma hist'oria a prop'osito de um burro que chega `a margem de um rio e n~ao consegue passar para a outra margem.

O rio n~ao tem ponte, o burro n~ao sabe nadar, n~ao h'a barco que o transporte. O que faz o burro? Depois de algum tempo de pensar, a crianca diz que desiste. E ent~ao a pessoa adulta, que lhe p^os a adivinha, diz: O mesmo fez o burro. O que devia dizer era: 'Es como o burro, porque assim 'e que a graca tem graca, se 'e que a tem.

Mas a hist'oria n~ao se passou assim, e foi o burro mesmo que ma contou. O burro chegou `a margem do rio, e queria passar para a outra margem. Verificou, efectivamente, e nesse particular a hist'oria 'e ver'idica como se narra, que (a) n~ao havia ponte, (b) n~ao havia barco, (c) ele, burro, n~ao sabia nadar.

Ent~ao o burro pensou: O que faria um homem no meu caso? E, depois de pensar, pensou: Desistia. Pois bem, decidiu: Sou como o homem.

Porque, nesta adivinha, ningu'em pensou numa coisa: 'e que o homem desistia tamb'em.

Moralidade:

A pol'itica partid'aria 'e a arte de dizer a mesma coisa de duas maneiras diferentes. O melhor 'e dizer em segundo lugar, porque como 'e o homem que faz a adivinha, adiante vai o burro.

O Soares e o Pereira

O Soares e o Pereira, empregados do mesmo escrit'orio, eram inimigos de alma. N~ao havia quest~ao de servico, ainda que rigorosamente n~ao pudesse surgir conflito entre os dois, em que n~ao surgisse conflito entre os dois. E, embora nunca seguissem por aquelas vias chamadas de facto, fervia em pouco tempo a descompostura m'utua. De besta para cima e para baixo, todos os arredores de malandro, com passagem por gatuno e grande escala por tudo, encontrarem-se era discordarem, olharem-se era a primeira palavra de se descomporem.

Um dia o Soares, que era o mais inteligente e por isso o mais est'upido dos dois, referindo, fora do escrit'orio, a um amigo as cenas habituais com o Pereira, recebeu desse a pergunta:

«Mas porque diabo 'e que tu n~ao o esmagas com uma coisa pior que todas as piadas?» «Que coisa?», perguntou o Soares; «porrada?». «N~ao, n~ao digo isso… Melhor que isso: o sil^encio… Ele tem mais piada que tu; pois bem, arranja mais desprezo do que ele. Ele insulta mais, e tu olhas para ele e n~ao dizes nada. Ele insulta mais, e tu na mesma. Ele espuma e esbraveja, e tu idem e igualmente zero. Ver'as que n~ao h'a piada que ele possa dizer que valha o que tu n~ao dizes. O que tu n~ao dizes pode ser tudo; o que ele diz n~ao pode ser sen~ao o que ele diz, e, se calhar, muitas vezes nem isso 'e».

O Soares pensou e achou raz~ao, pelo menos provis'oria, ao conselho. E, ao contr'ario do que a prud^encia manda, seguiu-o. Mas, como 'e costume suceder quando se n~ao segue a prud^encia, fez bem.

Foi logo no dia seguinte, porque era todos os dias, e o dia seguinte n~ao era feriado. Surgiu um incidente que o Pereira fez o Soares ter feito surgir. E, sob os ouvidos fitantes do outro pessoal, o Pereira comecou. Os substantivos do costume uniram-se aos adjectivos da vizinhanca, e o car'acter, habilitac~oes, possibilidades penais, e outros atributos de um Soares de ret'orica, fulguraram no discurso. A certa altura, como o Soares n~ao dissesse nada, mas olhasse para o orador com uma ateng'ao despreocupada e vaga, o Pereira comecou a afrouxar. Seguiu a cena, de calado a pasmo, e o Pereira, afrouxando cada vez mais, foi-se tornando l'ivido. Ao fim de cinco minutos estava quase mudo e com a voz e a express~ao do olhar em v'esperas de l'agrimas. Ent~ao engoliu um pouco; e, dirigindo-se ao Soares numa voz tr'emula, disse: «'O Soares, voc^e est'a zangado comigo?»

Si vis bellum, para pacem.

O crist~ao e o cat'olico

Passeavam um dia juntos um crist'ao e um cat'olico. Disse de repente o cat'olico para o seu inimigo: «Meu amigo, creio que estamos de acordo». E o outro n~ao disse nada, porque todas as nac~oes que falaram concordaram em que o sil^encio 'e de ouro.

E ent~ao o cat'olico comecou:

— Concorda, n~ao 'e verdade, em que a verdadeira Igreja 'e aquela que se firma no rochedo de Pedro?

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