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Банкир-анархист и другие рассказы
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'E desolador este estado de coisas. Ningu'em pensa para onde vai, o que ser'a o dia de amanh~a. Para alguns ele deve ser ontem. Assim passam, entre d'uvidas e t'edios, os nossos tristes e cansados dias.

Imp~oe-se uma reacc~ao en'ergica e disciplinada. Por toda a parte o esp'irito revolucion'ario e o excesso de esp'irito cient'ifico — ou, melhor, o esp'irito cient'ifico indisciplinado — pretendem avassalar a realidade. Ontem foi o p'olo norte declarado descoberto. Todo o conservador estremeceu. Hoje 'e a P'ersia declarada existente. Todo aquele para quem a Tradic~ao representa mais alguma coisa de que um nome sentiu as l'agrimas chegarem-lhe aos olhos. N~ao pesou nada na balanca dos escr'upulos dos cientistas a beleza dos poemas de um Hafiz, de um Rumi, de um Omar Khayyam. Foi em v~ao que estes grandes nomes do Passado tornaram grande e irreal e falsa a sua P'atria. Nada 'e sagrado para os demagogos de hoje. Que mais pretendem? Quanto mais v'ao ousar? S'o lhes falta provar que Cristo foi uma realidade, que existiu o Imp'erio Romano, que as lutas pol'iticas da Gr'ecia tiveram lugar realmente. Que mais querem, os novos b'arbaros?

Este grito 'e, bem o sei, lancado aos ventos. Nenhuma Liga Anticient'ifica se formar'a. Ningu'em far'a soar a sua voz de acordo com a minha contrta a invas~ao destes desintegradores da sociedade. Ficar'a tudo entregue aos

«progressos» do esp'irito «cient'ifico». Hoje n~ao podemos ter tapetes persas. J'a t'inhamos perdido as paisagens polares. Amanh~a ir~ao as sedas da China, as cutelarias do velho Jap~ao. Assim progressivamente escassear~ao as subsist^encias e dentro em breve, absorvidos pela animalidade, ver-nos-emos obrigados a viver na terra como qualquer animal, a ter sa'ude como qualquer larva, a acreditar na vida como uma patag'onia ou um cherokee.

Que o s'abio que daqui a dez mil anos estudar a nossa civilizac~ao extinta, aplicando-se `a 'epoca da decad^encia, possa, lendo estas linhas de um homem amante da Tradic~ao e da Ordem, verificar que nem todos se deixaram ir na mar'e, que uma voz houve que se erguesse no meio da cobard'ia da aceitac~ao universal.

A rosa de seda

(f'abula)

Num fabul'ario ainda por encontrar ser'a um d'ia lida esta f'abula:

A uma bordadora dum pa'is long'inquo foi encomendado pela sua rainha que bordasse, sobre seda ou cetim, entre fo-lhas, uma rosa branca. Abordadora, como era muitojovem, foi procurar por toda a parte aquela rosa branca perfeit'issima, em cuja semelhanca bordasse a sua. Mas sucedia que umas rosas eram menos belas do que lhe convinha, e que outras n~ao eram brancas como deviam ser. Gastou dias sobre dias, chorosas horas, buscando a rosa que imitasse com seda, e, como nos pa'ises long'inquos nunca deixa de haver pena de morte, ela sabia bem que, pelas leis dos contos como este, n~ao podiam deixar de a matar se ela n~ao bordasse a rosa branca.

Por fim, n~ao tendo melhor rem'edio, bordou de mem'oria a rosa que lhe haviam exigido. Depois de a bordar foi compar'a-la com as rosas brancas que existem realmente nas roseiras. Sucedeu que todas as rosas brancas se pareciam exactamente com a rosa que ela bordara, que cada urna delas era exactamente aquela.

Ela levou o trabalho ao pal'acio e 'e de supor que casasse com o pr'incipe.

No fabul'ario onde vem, esta f'abula n~ao traz moralidade. Mesmo porque, na idade de ouro, as f'abulas n~ao tinham moralidade nenhuma.

Empresa fornecedora de mitos, Ida

— Est'a ali, disse a criada, um sujeito que lhe quer falar.

— N~ao disse quem era? perguntei.

— Deu este bilhete, disse ela sem salva.

Pequei no bilhete, e o que li nele fez com que me sentasse direito na cadeira, contra todas as tradic~oes que acumulei na minha vida sem decis~oes.

O bilhete dizia assim predominantemente:

EMPRESA FORNECEDORA DE MITOS, LIMITADA.

E, por baixo, lia-se, a subordinac~ao do costume:

«Representada por…»

— Este sujeito perguntou por mim? inquir'i d'ela.

— Perguntou pelo

«senhor»…

— Bem, disse, manda-o entrar…

O cart~ao n~ao dizia morada, nem, al'em destas, trazia uma indicac~ao qualquer.

O caixeiro de praca, ou viajante, entrou no meu gabinete com a seguranca f'isica que 'e peculiar da classe. Diferencava-se dos cong'eneres meus conhecidos em n~ao trazer mala nem sorriso. Cumprimentou-me cerimoniosamente, com um abaixar leve da cabeca. Indiquei-lhe que se sentas-se. Sentou-se, e fitou-me um momento.

— Desejava?.. meio perguntei.

Ele curvou-se levemente para mim, e comecou a expor a sua miss~ao numa voz que, sem deixar de ser um pouco mon'otona, n~ao o era contudo desagradavelmente.

— Antes de lhe explicar, com a devida min'ucia, a natureza e qualidades dos artigos que tenho a oferecer, desejava fazer-lhe, se mo permite, uma breve exposic~ao das raz~oes que levaram a casa que represento — primeiro, a fundar-se, segundo, a produzir, com a ci^encia e o escr'upulo que mostrarei, as qualidades e tipos de artigos em que se especializou industrialmente.

Acenei que sim, vagamente, percebendo s'o, por enquanto, que nada por enquanto percebia.

O meu visitante, que fitara o ch~ao um momento, tornou em breve a erguer a cabeca.

— A sociedade comp~oe-se de tr^es camadas distintas. A primeira 'e a dos criadores de mitos, e 'e a verdadeira aristocracia. Propriamente h'a criadores e transformadores de mitos — os homens de g'enio e os de talento, tomando cada palavra um sentido de valia mais alto que geralmente se lhe concede. — A segunda camada 'e a dos [15]. Um soldado que se bate por Napole~ao sente em si uma vida mais vasta e grande que o homem que passa na vida nulo, e an'onimo para si mesmo.

— Mas, nesse caso, porque protestas contra os mitos revolucion'arios e radicais modernos?

— Porque esses t^em a pretens~ao de n~ao ser mitos…

— Mas todo o mito, para ter forca, tem que impor-se com verdade. N~ao h'a crist~aos onde se considera como mito o mito crist~ao.

— N~ao 'e bem isso… os mitos revolucion'arios tenndem a destruir a 'unica realidade, que 'e a distinc~ao de classes. A'i 'e que est'a a sua inutilidade e a sua falsidade social. Que se defenda uma aristocracia diferente da actual, entende-se; mas que se n~ao defenda aristocracia nenhuma…

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