Банкир-анархист и другие рассказы
Шрифт:
E o outro respondeu: «N~ao concordo».
— Concorda, n~ao 'e verdade, em que a verdadeira Igreja 'e aquela que se firma na mais antiga tradic~ao?
E o outro respondeu: «N~ao. N~ao concordo».
— Concorda, n~ao 'e verdade, em que a verdadeira Igreja 'e aquela que re'une os m'isticos e os soldados, os ascetas e os grandes pecadores?
E o outro respondeu: «N~ao posso concordar».
— Concorda, n~ao 'e verdade, em que a verdadeira Igreja 'e a Igreja de Cristo?
E o outro respondeu: «Sim, talvez, n~ao sei se concordo».
— Concorda, n~ao 'e verdade, em que a verdadeira Igreja 'e a que quer o bem da humanidade?
E o outro respondeu:
— Concorda, n~ao 'e verdade, em que a verdadeira Igreja 'e a que for a verdadeira Igreja?
E o outro respondeu: «'E claro que concordo».
— Se estamos, pois, de acordo — disse o cat'olico —, vamos jantar juntos.
Assim fizeram, e como o cat'olico n~ao ficou ofendido e doesse ao crist~ao a possibilidade de o haver ofendido, foi o cat'olico que comeu com vontade e o crist'ao quem, por sua vontade, pagou a conta.
Moralidade:
Esta pergunta, mas da qual — a resposta de Lope de Vega, que se est'a em 1900.
O papagaio
Havia em um dos arrabaldes de Lisboa um homem chamado Silva. Este Silva casou, j'a pouco jovem, com uma vi'uva que tinha uma filha quase mulher. A mulher do Silva passou logo a domin'a-lo; e a enteada, `a medida que crescia, mais e mais ajudava a m~ae no dominio do padrasto.
O Silva passou a ser um trapo humano. Deixou de ter personalidade, vontade e lugar. Em tudo na vida dom'estica como na pr'atica, era um servo da vontade da mulher, quando o n~ao era da vontade, por vezes at'e espont^anea, da filha d'ela.
Como o dom'inio gera o desprezo, e o desprezo permite tudo, a mulher do Silva, apesar de n~ao ser de esp'irito leviano, foi levada, pelas circunst'ancias, a trair o marido. O amante, que era um indiv'iduo que fora promovido a primo d'ela para efeitos decorativos, foi elevado a quase residente na casa, e o Silva que n~ao podia ignorar a sua categoria sexual, tinha que o receber, que lhe sorrir bem e que lhe exprimir, por palavras e modos, o prazer que lhe dava a sua excessiva visita. E assim fazia o Silva.
Mais tarde, conseguiu a mulher do Silva que o amante fosse nomeado por este gerente e mandat'ario das suas propriedades, dele Silva. E assim seguia e se consumava o dom'inio do marido, mero animal pagante naquela engrenagem de domesticac~ao.
Ora o Silva tinha um papagaio — ave j'a velha e nem por isso muito esperta: gritava mais do que falava, e, quando falava, era sempre a mesma coisa. Um dia a mulher do Silva, macada, muito naturalmente, com o vozear do p'assaro, ergueu-lhe o poleiro da esc'apula sobre o quintal e vendeu-o a um viandante qualquer.
Quando o Silva voltou, `a noite, para casa, e lhe faltou, de a'i a minutos, a voz rouca da ave, procurou-a na esc'apula da parede sobre o quintal, n~ao a viu, e foi `a casa de jantar perguntar `a mulher por ele.
«Vendi-o» disse ela, e enteada ria. O Silva retirou-se como de costume, sem dizer nada.
Foi, por'em, ao quarto de cama, tirou o rev'olver da gaveta da mesa de cabeceira, voltou `a casa de jantar e, com dois tiros calmos, certos e sucessivos, matou a mulher e a enteada.
Moralidade:
Nac~oes imperiais e dominadoras, expansivas, cuidado sempre com o papagaio!
A varina e a l'ogica
Quando as quatro varinas corriam em losango pela r'ua e ao lado, a do avanco, loura e com olhos, deu com o instinto de troca contra o homem moco de barbas de velho que vinha tendo ar de s'abio pelo passeio `as avessas. E parou, e, instintivamente, os transeuntes pararam. E ela largou a m~ao de alto, de sobre a canastra, apontou para o homem e disse:
— Olhem para este barbacas.
Toda a paisagem humana riu junta.
O homem mogo de barbas velhas parou `a beira do passeio como de um cais, olhou abstracamente a varina, e disse num tom triste:
— Bem se v^e que foi tua av'o que te pariu!
A varina estacou mais, corou, emudeceu com uns poucos de sil^encios, e em torno rebentou, depois de um pouco, uma gargalhada do p'ublico j'a trespassado. N~ao se distingu'ia se a gargalhada era da resposta, se da conf'us'ao muda da varina loura.
O homem moco passou, levou as barbas de velho escondidas pelas costas viradas ao p'ublico que o aplaudira. Depois, num caf'e, contou o epis'odio a um amigo. O amigo ouviu, riu, e depois n~ao p^ode rir. Por fim fez um gesto em que a face era envergonhada a medo.
— Voc^e desculpe. Eu serei talvez est'upido, ou estarei est'upido hoje. Mas o que quer isso dizer?
— N~ao quer dizer nada, respondeu o outro. E a'i 'e que est'a o golpe.
Moral:
Confundir 'e vencer.
notes
1
Заметим, что единственная монография о Пессоа, написанная на русском языке, тоже посвящена гетеронимам: Хохлова И. А. Поэтические маски Фернандо Пессоа. СПб, 2003.
2