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Банкир-анархист и другие рассказы
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A alma da gente 'e uma coisa suja e o que vale 'e que a alma n~ao tem cheiro.

Isto, senhor juiz, e para que Vossa Excelencia saiba, e os senhores jurados, 'e o que todas as mulheres sentem. Umas nem d~ao por isso e v~ao vivendo como os empregados de escrit'orio que d~ao em velhos sempre a fazer a mesma letra; outras sentem e calam, e vivem s'o pr`os filhos, porque lhes ensinaram a ser s'erias — porque a gente aprende a ser s'eria como aprende a tocar piano; e outras n~ao aguentam, senhor juiz, e rebentam, e no meio disto tudo a gente n~ao sabe o que 'e melhor ou pior, porque o melhor 'e a gente n~ao avaliar dos outros, porque eles s~ao outros e a gente n~ao sabe o que vai l'a por dentro.

E vem uma vontade de meter a costura pela pia abaixo, e de ir para longe ao menos s'o para chorar `a vontade. A vida, senhor juiz — se o senhor juiz soubesse o que 'e a vida!

A falta de coragem 'e o que 'e o pior ~nas mulheres. A gente ainda tem medo dos tempos em que a lei nos batia mais que os homens. Ent~ao o senhor juiz julga que uma mulher s'eria usa saia curta por moda — l'a no 'intimo da alma d'ela? 'E para chamar os homens — mas o que ela n~ao se atreve 'e a deix'a-los chegar. Ent~ao h'a alguma mulher que se decotasse sen~ao para ser apalpada com os olhos?

Tenho, senhor juiz, tenho muitas coisas 'e a dizer e oxal'a o senhor juiz e os senhores jurados se n~ao importem que eu as diga. Porque esta, senhor juiz, 'e a verdade, e o que eu sinto, e o que toda a gente sente, se pensar nisso e eu quero dizer isso tudo, senhor juiz, sem tirar nem p^or.

O que faz mal `a gente 'e a imaginac~ao. Se uma mulher n~ao tem imaginac~ao 'e s'eria por sua natureza, senhor juiz, s'eria a valer.

Mas a gente nasce com o corac~ao que recebe, e 'e com esse que tem que sentir e penar.

Sempre o mesmo homem, senhor juiz — o mesmo homem todos os d'ias, com o mesmo corpo e a mesma maneira! Todas as noites, senhor juiz, e na mesma cama — nem a cama muda ao menos. E aquilo ao fim de tempo j'a n~ao era viver, nem coisa que se parecesse — era uma coisa entre comer para n~ao ter fome e fazer o servico da casa… Se os homens soubessem o que custa a aturar! Se soubessem o nojo que a gente tem por eles c'a dentro quando est'a encostada a eles!

E eu, senhor juiz, n~ao tinha outro rem'edio sen~ao mat'alo para estar bem com a minha consci^encia e com a Igreja.

Foi por isto, senhor juiz e senhores jurados que eu matei o meu marido.

F'abulas para as Nac~oes Jovens

O segredo de Roma

Quando C'esar chegou tarde ao fim do campo de………, ergueram r'apidos perante ele a cabeca de Pompeu. C'esar abriu em l'agrimas, e os que estavam pasmaram. O que erguera a cabeca baixou-a um pouco; estava at'onito, e al'em disso ela pesava, porque ele a erguera a braco largo.

— Assim, que vale uma vit'oria? — perguntou C'esar.

— 'E certo — respondeu o que o seguia, pois n~ao sabia que dizer.

E C'esar continuou:

«Foi meu amigo, meu companheiro, era romano e soldado…»

E depois disse: «Cheguei tarde…»

O companheiro esbocou um gesto sem nada, e C'esar voltou as costas curvas de dor.

«Cheguei tarde», repetiu. «Quer'ia t^e-lo eu matado com minhas m~aos».

Moralidade:

Cuidado com as l'agrimas, quando s~ao estadistas os que as choram.

O Saraiva ou o Saraiva e as meninas

Havia em tempos, no Porto, um rapaz estudante, vindo das prov'incias do Norte, chamado Saraiva. Este rapaz tornara-se not'avel entre os companheiros pela certeza da pr'opria perspic'acia e a sua igual certeza de seus talentos de declamador. A cada frase, por simples que fosse, que lhe parecesse envolver uma mentira, tomava a mentira como dirigida inutilmente contra a rocha da sua esperteza; e, levando o indicador direito `a p'alpebra do olho direito, descia-a, no gesto dos 'alacres, e dizia ao interlocutor, em aviso e ameaca alegre:

«Eu sou o Saraiva!» E o outro ficava sabendo que o n~ao conseguir'a enganar. O indicador erguia-se livre.

Esta ci^encia certa, considerada pelos outros rapazes como rid'icula em si mesma, levou-os a combinar, servindose da preocupac~ao que o Saraiva tinha de declamador, uma cena c'omica, destinada a, de vez, p^or o Saraiva em salmoura social. Sabendo o horror do rid'iculo que estava latente naquela constante preocupac~ao de que n~ao era enganado, combinaram com v'arias raparigas das suas relac~oes, de boas fam'ilias e condic~ao decent'issima, uma sess~ao em casa dos pais de umas d'elas, para a qual convidaram o Saraiva para declamar. E estava combinado que, apresentado o Saraiva e convidado a mostrar seus dotes de declamador, eles fossem, por fim, reconhecidos com uma gargalhada geral. Desta, fixaram bem, o Saraiva se n~ao escaparia, e ficariam pagos de tanta irritac~ao de certeza.

Expuseram ao Saraiva que havia v'arias senhoras que gostariam de o ouvir declamar, pois lhes constara o que valia na mat'eria, e com ele estabeleceram que o apresentariam em casa dessas senhoras, podendo ele aparecer em tal noite, e a tais horas.

Grato, o Saraiva acedeu e a combinac~ao ficou feita. Sucede, p'orem, que, chegado a casa, comegou a meditar no convite, e, desde logo, a desconfiar dele. «Ali h'a coisa», pensou o Saraiva. E, sozinho, diante do espelho, levou o indicador direito ao olho direito, no gesto baixante da esperteza, «Mas eu sou o Saraiva!», apontou para si mesmo.

E meditou, «Que diabo ser'a a partida?». N~ao tardou que descobrisse. Tratava-se de encher uma casa qualquer de uma quantidade de meretrizes dispostas com apar^encia de senhoras e meninas, e de o convidar (a ele Saraiva!) para ir fazer diante d'elas o papel de recitador. Conclus~ao l'ogica, conclus~ao natural. E o Saraiva tomou mentalmente as suas precauc~oes.

Chegou a noite, e chegou o Saraiva. E, junto com os v'arios camaradas, foram dar `a casa onde estavam reunidas as senhoras todas que os esperavam. Para entrada e deslumbramento, os apresentantes, aberta s'ubitamente a porta da sala, que se revelou cheia de senhoras, apresentaram, «Minhas senhoras, o sr. Saraiva!», com o ar de quem apresenta um dos homens c'elebres do mundo.

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